O que é um Santo Natal?
Contrariamente ao que me ensinaram, sobre o Natal, hoje quando na rua, alguém me olha e diz:
– Boas Festas!
Fico a pensar:
-Neste período de vizinhança de Natal, a sede de “bem fazer” é mais aguda.
Eu, que vejo esta época do ano, como um hino à hipocrisia generalizada, como a festa de tudo o que é contrário aos sentimentos e actos de solidariedade descomprometida, de genuína vontade de abrir os braços e tentar abraçar o mundo.
Eu, que vejo constantemente por aí a pobreza a que não chega a roupa, a comida, o carinho, que lupo solidão, tristeza, desespero, que olho ódios e ressentimentos familiares, velhos que adormecem isolados, as carrinhas das boas vontades, aquelas, que têm dias e horas marcadas.
Vidas sem qualquer enfeite, que flutuam por caminhos esgotados e sem adubos, onde não há sonhos, e só existe uma vontade de desforra pelo que lhes caiu em sorte, e acorrentados à tradição da festa, o Natal desvenda-se sombrio, para aqueles cujos parcos recursos, não lhes permitem compensações em que iludam o desejo frustrado.
Pois eu desejo que neste Natal todos os que vivem de incertezas práticas ou apenas de sentimentos contraditórios, que tantas vezes nos assaltam, possamos olhar para nós e encontrar armas que nos animem, ao nosso amigo, ao nosso vizinho, ao nosso familiar e, ao acordar no dia seguinte, naquele dia em que já quase todos se esqueceram dos votos de Boas Festa, consigamos perceber que, todas as noites de todo o ano, deveriam velar pelo doce articulado da sociedade.
E para todos um Santo Natal !